Uma terra para um rato governar

É absurdamente incrível a nossa capacidade de imaginar coisas muito além dos fatos. Eu, por exemplo, fico aqui pensado como o governador Pedro Paulo agiria numa situação contrária à sua prisão, na operação Mãos Limpas. A ação foi um bafafá daqueles, e ganhou destaque na mídia nacional. Tudo isso, faltando pouco mais de 20 dias para as eleições. Um escândalo político raro de se ver por aqui pelo ‘meio-fim’ do mundo; prato cheio para a imprensa local. Porém, mais espantoso que a operação em si, só mesmo em saber que há jornalistas com o rabo tão preso, que chegaram a tentar encobrir o fato com panos quentes! Aff...
Depois de montado o circo, ponho-me a pensar então, como ele (Pedro Paulo) poderia ter escapado dessa. Pois é. Porque, para quem negocia terras públicas em troca de 30 milhões de DÓÓÓÓLARES, para serem utilizados em sua campanha de reeleição – como informaram os grandes jornais do País -, só mesmo sendo muito influente ou, no mínimo, cara de pau. Bem, suponhamos que houvesse nesse imbróglio a participação de um policial corrupto da PF, e desse aquela “ligadinha” do seu celular para o governador, pedindo a ale que acordasse logo, pegasse uma trouxa roupa e se mandasse de casa, antes da chegada da Polícia Federal em sua casa. Talvez assim, Pedro Paulo teria protelada a sua prisão. Mas, seria tido como foragido; e aí, acredito que ele ficaria mais enrolado do que uma bobina de máquina de costura “Singer”. Não, não... Seria estupidez demais!
Como fã que sou de livros de ficção científica, de repente, ele poderia até acatar a sugestão do colega da PF, e aí, esperaria a poeira baixar para dar início a um plano genial: Com 30 milhões de DÓÓÓÓLARES em mãos, negociados com uma empresa da Indonésia em troca de terras no Amapá, Pedro Paulo poderia comprar uma passagem para curtir, quem sabe, um turismo espacial, já que só milionários podem usufruir desse deleite. E lá iria Pedro Paulo rumo aos céus, sem asas; ainda que vivo. E muito vivo, aliás!
Não, não... Acho que faria melhor: De posse toda essa dinheirama, entraria para o mundo da ficção científica. Isso! Quem sabe, não seria uma das personagens do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, do escritor inglês Douglas Adams. Isso mesmo! Já que a obra narra uma história fantástica – beirando o absurdo, tal qual a reação do governador na manhã daquele fatídico e surpreendente dia de sua prisão -, acho que posso imaginá-lo nessa trama.
O livro leva o leitor a refletir sobre a vida e o universo, através de uma narrativa satírica. Curiosamente, na vida real, a operação “Mãos Limpas” fez praticamente o mesmo, só que com os eleitores. Obrigou muita gente a refletir, para evitar que façam da urna eletrônica um penico. Será que neste caso poderíamos dizer que “a vida imita a arte?”. Mas, com certeza, acredito que Pedro Paulo não seria a personagem principal, neste caso, Arthur Dent, um terráqueo comum como nós; um cidadão acima de qualquer suspeita, tal qual se diz o nosso governador.
Dent leva a vida dele normalmente, se é que podemos chamar de normal uma vida na qual você tem que impedir a demolição da sua casa todos os dias! Outra semelhança entre a ficção e o mundo real, já que o que Pedro Paulo mais queria na vida é que a sua casa não caísse, mas, o destino não lhe foi amigo, e a casa desmoronou. Pois bem... Numa certa manhã, Dent encontra um extraterrestre (Ford Prefect), que o implora para abandonar a Terra, já que o planeta seria destruído para dar espaço à construção de uma via expressa espacial.
Dent, o único sobrevivente depois da destruição da Terra, demora para acreditar em Ford Perfect – este papel caberia ao suposto policial corrupto - e, assim como Pedro Paulo, na vida “factória” do nosso governador nesta crônica, a personagem acata a sugestão do ‘amigo’ e, juntos, começam uma jornada fantástica em busca do porquê da decisão absurda. Para fugir do planeta, eles pegam uma carona clandestinamente em uma das naves Vogons (criaturas horrivelmente brutas e insuportáveis), mas logo são descobertos e jogados ao espaço. Porém, não demora muito para serem resgatados pela nave Coração de Ouro, comandada pelo presidente da galáxia, Zaphord Beeblebrox.
Com muitos seres estranhos e engraçados que aparecem ao longo da obra, fica difícil encontrar um papel que caiba certinho com o perfil do governador Pedro Paulo. Para muitos, ele poderia ser, talvez, aquele robô maníaco-depressivo, Marvin, “o andróide paranóide”, mas este se suicida no final da narrativa, e Pedro Paulo já provou que não é capaz de cometer ato tão nefasto; não o de tirar a própria vida!
Como assim? Compará-lo ao Marvin só porque o chefe do executivo derramou algumas lágrimas e parecia abatido durante o seu discurso aos secretários e à imprensa após voltar de Brasília, onde ficara preso por nove dias? Não! Deixemos a leniência de lado e sejamos mais criativos. Ao chefe do executivo cabe-lhe algo mais grandioso. Claro! E por que não?
Acho que compete então ao nosso aventureiro governador o papel de um dos ratos da narrativa. Isso mesmo! Um rato. Afinal de contas, de acordo com a imaginação criativa de Douglas Adams, os ratos são os serem mais inteligentes da terra, deixando para trás os golfinhos e os humanos (o terceiro na lista das espécies mais inteligentes). Pois só sendo mesmo muito esperto para conseguir a façanha de querer subestimar a parca inteligência da gente, pobres humanos eleitores amapaenses.

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