“Mentiras sinceras me interessam”

Parafraseando Cazuza: Mentiras sinceras me interessam e muito! Quem nunca contou uma mentira que atire o micro na parede.  A mentira, apesar de feia – como sempre pregaram nossos pais e professores – é tão essencial quanto à verdade, acredite! Sendo ela então contada da forma mais sincera, aí que a gente percebe que ela acaba se tornando tão verdade quanto à própria verdade, bem, pelo menos para os que ouvem.
Quem nunca disse “eu te amo” da boa pra fora só para ver brilhar os olhos do namorado (a), apesar de nem gostar tanto assim do outro (a)? Eu adoro ouvir e falar “mentiras sinceras”. Mas, para a sociedade, nada é tão bom e justo quando ouvir a verdade, sempre. Entretanto, às vezes, a verdade se torna tão prejudicial quando a mentira, ainda mais se for mal contada; esta sim tem pernas curtas. Na hora de uma entrevista de emprego, então, é bom saber o que realmente devemos contar, a verdade, ou uma mentira sincera.
Matheus de Lucca é um jornalista de mão cheia, mas, como se sabe, para um profissional dessa área ganhar o salário dos sonhos, é preciso se desdobrar em muitos, fazendo bicos aqui e ali... Oh, perdão, fazendo “freelas”, de acordo com o jargão jornalístico. Certa vez, surgiu uma oportunidade a ele de ser editor de um jornal de grande circulação. E, claro, encarou a ‘parada’. Foi para a entrevista, nervoso, como a maioria, mas foi.
Tudo ia bem na entrevista com os dois editores do veículo, até que lhe perguntaram algo crucial: o que ele achava dos cadernos de Polícia e de Esporte. Sem titubear, ele respondeu com toda honestidade que, particularmente, não “era fã” dessas editorias, mas as lia, por obrigação profissional. Dias depois, ficou sabendo que perdeu a vaga, justamente, por ter contado a verdade. Ué, quer dizer então que se ele tivesse mentido ganharia o cargo?! Com certeza! O problema é que Matheus não usou da mentira sincera para lhe beneficiar. Salve, salve a ética! Se assim o fizesse, estaria no cargo de editor até hoje. Então, é bom que saibam logo: Mais do que ninguém, os RH das empresas adoram uma mentira sincera. Mentiu? Foi sincero? A vaga é sua! Taí, um sofisma que pode ser eficaz na hora de conquistar o emprego.
Não vamos confundir mentira sincera com mentira deslavada. Para esta, deveria haver pena de morte para quem a conta, e àquele que acredita deveria ser internado em um hospício. A mentira sincera tem o poder de amenizar, ou encobrir, a dureza da verdade. Mas, a habilidade para sacar se a mentira é mesmo sincera ou não, é aptidão de poucos. E para quem reconhece que a potoca é sincera, acaba acreditando nela como se fosse a verdade absoluta. Isso faz me lembrar de um conto de Veríssimo, que fala a história de um homem casado, fiel e apaixonado por sua esposa, e usa da mentira sincera para salvar o casamento.
Certa noite, como e praxe, indo para a casa depois do trabalho, o personagem teve o pneu do carro furado. Desceu para trocá-lo, mas, com a mão suja de graxa, sua aliança saiu do dedo rumo a um bueiro, e lá se foi o anel. Desesperado, só pensava no que ia dizer à mulher sobre a perda, crente de que ela não acreditaria na verdade, pois, nesse caso, a verdade lhe parecia descabida. E resolveu mentir.
Ao chegar em casa, contou à mulher que ele havia esquecido a aliança em um motel, onde fora com sua amante. A esposa ficou arrasada no primeiro instante, mas, lhe foi complacente depois. Levou em conta a honestidade do marido por ter contado a ela a “verdade” sobre o caso extraconjugal que vinha levando. E tudo ficou bem na história. Depois dessa, alguém ainda duvida que uma mentira sincera vale mais do que mil verdades contadas?

1 comentários:

Fabiano Bizerra 11 de outubro de 2010 às 21:40  

As mentiras siceras apimentam os romances, salvam todos os tipos de relacionamentos: tornam a vida melhor.

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